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sábado, 23 de julho de 2016

Encontros e Cruzamentos de Olhares de uma Tradição Maranhense em Terras do Cerrado Mineiro

[publicação original aqui]
 


No primeiro dia de maio de 2016 estava marcada uma visita à Tenda Tambores de Mina, Casa de São Benedito da Cruzada de Xangô. Era um convite que eu havia feito ao Projeto Pau Pedra, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, para conhecer de perto o trabalho de uma família maranhense que havia se mudado para Uberaba, de forma similar que um dos integrantes do Projeto, vindo do Pará. Ao chegarmos, fomos recepcionados por Mãe Ana Lúcia de São Benedito na Cruzada de Xangô, com quem conversamos longamente a respeito da história de sua vinda para Uberaba junto de sua família. Foi uma conversa entremeada e compartilhada por seus filhos e parentes, em meio a histórias, cantos, danças e batuques, dos quais fomos convidados a participar mais ativamente em determinado momento. Em um grupo de cinco "acadêmicos", munidos de curiosidade e câmera,  nos vimos algumas vezes também fotografados e filmados pelos integrantes da casa, estabelecendo uma interessante inversão de posicionamentos.

A Tenda e o Projeto são duas formas distintas de relação com as culturas brasileiras, mas ambas com processos relacionados à restauração do comportamento a partir de processos criativos em interação com a tradição. O modelo de restauração do comportamento a que me refiro é pensado por Richard Schechner* e se refere a como o comportamento vivo (sequências organizadas de eventos, roteiros de ações, movimentos conhecidos, gestos etc.) são rearranjados ou reconstruídos a partir de um processo que é ao mesmo tempo reflexivo e simbólico. Para Schechner, algumas vezes, a "verdade", "fonte" (ou "matriz") deste comportamento pode mesmo ser ignorada, perdida e contradita neste processo de restauração, mesmo quando aparentemente é honrada e observada. Apesar de se originarem inicialmente enquanto processo, ao serem utilizados nos "ensaios" para criar um novo processo, a performance, estes comportamentos são então entendidos como coisas, itens, "material", o que lhes confere a propriedade de serem transformados, transmitidos e relembrados. O "performer", ao entrar em contato , recuperar, relembrar, ou mesmo inventar este comportamento e agir novamente de acordo com ele, o faz tanto sendo "absorvido por ele" ou "existindo lado a lado" com ele.

Enquanto a Tenda Tambores de Mina se refere a uma família tradicional que busca dar continuidade à sua tradição ao mesmo tempo que busca relação com a tradição local, o Projeto é uma proposta de aproximação do conhecimento acadêmico do conhecimento "popular". A Tenda dá continuidade a práticas referentes às tradições maranhenses de Encataria, Tambor de Mina, Tambor de Crioula e Bumba-Meu-Boi, bem como ao Congado mineiro. Já o Projeto Pau Pedra tem se interessado principalmente em pesquisar o carimbó paraense (da terra natal de um dos integrantes do Projeto) e o cacuriá maranhense a partir de referências em sua maior parte externas ao próprio grupo. Guardadas as devidas proporções e especificidades, este projeto é similar a um outro do qual fiz parte por cinco anos, o Grupo Baiadô: Pesquisa e Prática em Danças Brasileiras, da Universidade Federal de Uberlândia. É, portanto, muito importante para mim poder participar deste início de caminhada com eles propondo a aproximação com a Tenda Tambores de Mina devido à forma como esta família estabelece diálogo entre a cultura de sua terra natal e a cultura uberabense.

A "matriz" de recuperação do comportamento da Tenda Tambores de Mina remete a uma relação profunda com a ancestralidade de seus integrantes, que foi continuamente incorporada nos ritmos, cantos, danças e histórias da família,  (segundo a tríade cantar-dançar-batucar de Fu-Kiau, discutida por Ligiéro, aqui e aqui). Mesmo ao buscarem criar um terno de Congo, o fizeram utilizando elementos de sua tradição, materializados nas memórias dos integrantes da casa. Tanto as dinâmicas de busca pela continuidade da cultura de sua terra natal, quanto aquelas de aproximação com a cultura que os recebia são mais facilmente entendidas segundo a ideia de motriz do que de matriz, entretanto, pois o movimento de incorporação e sustentação da tradição não é estático neste processo, sendo antes dinâmico e de constante adaptação à nova situação vivida por seus praticantes.


Neste aspecto, tanto a brincadeira, quanto o jogo e o ritual estão inter-relacionados, não sendo plausível a separação ocidental que fazemos entre religião e entretenimento. Tal se faz ainda mais evidente se considerarmos que tanto o Boi quanto o terno de Congo da Tenda têm como responsável o patrão da casa, o senhor Pavão Dourado Africano, que é uma entidade ancestral e não encarnada. Inclusive, ao serem convidados a participar em determinado evento de uma escola que levassem as danças do Boi, mas não fizessem menção à religiosidade da Tenda, lhes foi estranha tal solicitação. O Boi não dança sem seu patrão e, da mesma forma que em toda solenidade em que o chefe da casa está presente, é preciso oferecer o respeito adequado que é recuperado em cantos, danças e ritmos apropriados.

Estabelecer diálogo com as tradições populares implica, assim, em entender que este diálogo não é de natureza puramente verbal, trazendo portanto um questionamento de como as diversas instituições formais podem acabar silenciando ou marginalizando a voz destes grupos ao buscarem impor suas próprias estruturas de construção de conhecimento como as únicas possíveis. Abrir a escuta implica em um esforço de atenção para além dos ouvidos, requerendo uma revisão da própria postura inclusive de criação artística. Desta forma, fica o desafio de pensar e repensar a arte e a própria universidade a partir de outras práticas que não aquelas comumente estabelecidas e "naturalizadas" no cotidiano acadêmico.

* SCHECHNER, Richard. Between theater and anthropology. Filadélfia: University of Pennsylvania, 1985.


 O ponto de vista de quem é observado


sábado, 16 de janeiro de 2016

Siba Veloso no Trânsito entre o Tradicional e o Cosmopolita


Siba Veloso, um dos fundadores do grupo Mestre Ambrósio, tem um percurso interessante de trânsito criativo entre as culturas tradicionais de Pernambuco e as culturas cosmopolitas, investindo na fusão proporcionada pela guitarra e por outros instrumentos e tecnologias eletrônicas.

sábado, 25 de julho de 2015

Desafio Mapa Educação - Campanha de Financiamento Coletivo





O LaPop está participando da campanha de financiamento coletivo organizada pelo Desafio Mapa Educação para a participação em uma conferência que deve acontecer dia 29 de agosto!

Se você gostaria de contribuir para que o nosso trabalho possa participar desta conferência,  é só clicar aqui e doar qualquer quantia (reforçamos que o valor doado só será descontado uma vez que a meta total seja alcançada).

Esta contribuição é importante pois nesta conferência estarão presentes projetos similares de todo o Brasil que estão empenhados em propor mudanças significativas e concretas em nossa sociedade. A proposta do evento é abrir espaço de divulgação, partilha e diálogo entre as diversas iniciativas. São 170 projetos inscritos, do norte ao sul do país!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

JAMistura do dia 11!

jamistura de hj❤️❤️❤️

Posted by Cláudia Nunes on Sábado, 11 de julho de 2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Desafio Mapa Educação


Salve, Povo!Estamos inscrevendo o LaPop no Desafio Mapa Educação. Mas para que possamos participar da conferência...
Posted by Laboratório de Cultura Popular on Segunda, 20 de julho de 2015

quinta-feira, 2 de julho de 2015

JAMistura


O que acontece quando juntamos num mesmo mexido de improvisação várias modalidades de dança? E se tivermos também...
Posted by Laboratório de Cultura Popular on Quinta, 2 de julho de 2015

domingo, 21 de junho de 2015

Aula Experimental no Movimente, Atelier de Dança & Terapia


O Movimente, Atelier de Dança & Terapia, e o Laboratório de Cultura: Experimentações em Dança, Educação e Cultura...
Posted by Laboratório de Cultura Popular on Domingo, 31 de maio de 2015
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